domingo, 16 de abril de 2017

Opinião: Poder e Vingança (Império das Tormentas #1)

Título Original: Hope and Red (2016)
Autor: Jon Skovron
Tradução: Jorge Candeias
ISBN: 9789897730344
Editora: Edições Saída de Emergência (2017)

Sinopse:

Um procura poder. O outro vingança.

Num império fraturado espalhado por mares selvagens, dois jovens de culturas diferentes encontram um objetivo em comum. Uma rapariga sem nome é a única sobrevivente quando a sua aldeia é massacrada por biomantes, servos místicos do imperador. Após receber o nome da sua aldeia devastada, Esperança Negra é treinada pelo mestre Vinchen como uma guerreira e instrumento de vingança.

Nas ruas da cidade de Nova Laven, um rapaz torna-se órfão e é adotado por uma das criminosas mais afamadas do submundo. Recebe o nome de Ruivo e é treinado como ladrão e vigarista. Quando um acordo é feito entre criminosos e os biomantes para governar as ruelas de Nova Laden, os mundos de Esperança e Ruivo acabam por chocar e eles são forçados a uma aliança inevitável…

Opinião:

Diverti-me muito a ler Poder e Vingança, o primeiro livro da trilogia "Império das Tormentas". Jon Skovron apresenta-nos um mundo novo, no qual o mundo conhecido é composto por um conjunto de ilhas. A cação é rápida, tornando-se cada vez mais intensa, o que faz com que a história agarre. As personagens principais têm passados que justificam aquilo em que se tornaram, sendo que as secundárias são um espelho desta nova sociedade.

A trama tem dois protagonistas, cujo ponto de vista surge em capítulos intercalados. Esperança e Ruivo são as figuras que nos transportam para esta aventura. Senti-me mais atraída por Esperança do que por Ruivo devido à história pessoal de cada um. A dela acaba por chocar mais e é também através dela que conhecemos os terrores causados pelos biomantes e ainda a Ordem de Vinchen Contudo, colocando as emoções de parte, vejo que Ruivo tem uma construção mais interessante, devido à forma como se adapta às circunstâncias, mas mantendo um fundo bom.

Desde o principio que sabemos que vai existir um encontro entre os dois, mas a espera revelou-se mais longa do que imaginava. Percebo o motivo para tal ter acontecido, já que foi preciso que os dois construíssem as suas personalidades e criassem as suas próprias histórias antes de se encontrarem, mas ainda assim senti que a trama precisava que Esperança e Ruivo se conhecessem durante mais tempo. É que o tempo que é gasto na criação de laços acaba por ser muito menor e, por isso, fica a sensação de que era preciso mais para fortalecer a ligação entre ambos.

A narrativa é apelativa, tendo sempre algum acontecimento de destaque. A sequência de acontecimentos faz sentido e justifica os motivos de cada personagem. Existem muitos momentos de acção, sendo que a descrição destes é directa e sem espaço para confusões. As relações entre personagens geram interesse, uma vez que tanto mostram laços mais profundos assim como ligações superficiais e de interesse. Os biomantes e os Vinchen acabam por ser inovadores, mas também familiares, já que uns se inspiram nos magos que povoam muito género fantástico enquanto os outros fazem recordar grupos que vivem para o aperfeiçoamento de artes marciais.

O autor criou uma gíria para o povo de Nova Laven, o que foi muito divertido de descobrir. Ao início estava constantemente a ir às páginas finais do livro para perceber o que cada expressão ou palavra queria dizer, mas com o decorrer da leitura já estava a entender tudo. Tanto que, a certo ponto, já dava por mim a pensar com alguns destes novos termos. As classes mais altas também têm particularidades na linguagem, as do povo comum acabaram por ser as mais interessantes. Este pormenor deu uma nova graça à leitura e ajudou a torná-la ainda mais distinta.

Gostei muito desta leitura e fiquei ansiosa para pegar no próximo volume, mas reconheço que existem aspectos a serem melhorados. A história, apesar de me ter conseguido prender à leitura, era previsível. O facto de, em momento algum temer pela vida das personagens de que mais gostei é sinal de que conseguia adivinhar o rumo dos eventos e ainda perceber que os riscos não iriam trazer tragédia real. Os obstáculos poderiam ter maior dificuldade ou serem ultrapassados com maior dificuldade e sacrifício.

Através desta trama fantástica, o autor faz-nos pensar sobre questões da nossa sociedade. A separação entre ricos e pobres . Contudo, o que mais me chamou a atenção foi o papel da mulher. Se em situações comuns, entre as camadas menos privilegiadas, as mulheres parecem ter um estatuto semelhante ao dos homens, entre os mais poderosos tal não acontece. É curioso que o medo de ver figuras femininas em altos cargos de liderança é disfarçado com a ideia da fragilidade e inferioridade da mulher. Esperança e outras figuras conseguem provar que esta discriminação não faz qualquer sentido.

Poder e Vingança é um livro que merece atenção e cuja continuação promete continuar a agarrar. Estou verdadeiramente curiosa para saber que novas aventuras Jon Skovron vai criar para Esperança e Ruivo. Afinal, a conclusão deste livro sugere uma grande mudança e faz acreditar que as prioridades de cada um estão prestes a serem alteradas. Quero muito ler a continuação desta história, que espero que seja publicada com brevidade. Recomendo.

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